Sempre gostei de objetos e móveis antigos, que
muitos chamam carinhosamente de
“velharias”. Venho ao longo doas anos
colecionando algumas louças e objetos que ganho quando alguém quer me agradar
ou simplesmente se “livrar” de alguma coisa.
Todos contam uma história, e a maioria delas tem um
significado especial pra mim, como por exemplo, uma jarra linda que uma amiga ganhou no seu casamento
uns 50 anos atrás, e quando soube que estava com câncer, mandou a jarra,
delicadamente embrulhada, numa viagem de mais de 500 km. Invariavelmente quando limpo a jarra, me
lembro de seu sorriso fácil e dos dias
que dividimos sonhos e também muitas frustrações.
Numa fase de mudança e cortando o vínculo
definitivamente com uma região geográfica, a necessidade de visitar alguns
amigos é gritante. Ontem foi um desses dias.
Ao passar boa parte do dia com
uma amiga que conheci quando estávamos
grávidas dos nossos caçulas, e os nossos
lindos bebezinhos estão hoje com quase
22 anos, a ideia de que o futuro chegou me é muito familiar...
Fiquei saudosa e nostálgica na viagem de volta.
Sei
que minha amiga vai reler esta frase..., vai rir ... e não vai acreditar... mas é verdade.
Uma saudade esquisita, aquela sensação que eu
detesto: “parece que não aproveitei o bastante!”
Somos tão iguais... e tão diferentes...
Eu gosto de “velharias”, ela gosta do contemporâneo.
Ela é sensível e amável. Bem, eu sou racional e
amável bem de vez em quando...
Ela fala com cuidado usando delicadamente as
palavras... e eu ...não gosto muito de atalhos!
Ela já me irritou com sua maneira polida e delicada, e já se magoou com minha
racionalidade áspera e ácida. Acho que nestes vinte e poucos anos já vivemos
intensamente uma amizade, e posso dizer que admiro muito minhas outras amigas,
mas sem dúvida ela é a mais bonita, e juro, não é porque continua magra!
Estou ficando velha e nostálgica, que raiva!!
Voltemos aos objetos significativos. Ao nos
encontrarmos ontem, duas xícaras estavam me esperando. Minha amiga separou com cuidado as xícaras que foram de sua
mãe _ eu sei mais do que ninguém o amor e carinho que ela teve por sua mãe!
Acho que foi isso que me fragilizou desta maneira.
Trouxe as xícaras com todo cuidado e com certo
medo... pois sou, digamos um pouco desastrada...
Mais do que fazer parte da minha pequena coleção de
“velharias” elas serão como um memorial da nossa amizade. Quando um dia meus
netos perguntarem: “e estas xícaras vovó, de onde vieram?” Vou ter que sentar e contar a história de
amizade que construímos, e como quase todos os idosos, vou caprichar nos
detalhes, repetir inúmeras vezes as mesmas coisas e sentir uma saudade danada
de um tempo que passou.
Acho que amizade é isso!
*texto escrito em agosto de 2012
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