quarta-feira, 24 de julho de 2019

É Só Uma Xícara



Sempre gostei de objetos e móveis antigos, que muitos  chamam carinhosamente de “velharias”.  Venho ao longo doas anos colecionando algumas louças e objetos que ganho quando alguém quer me agradar ou simplesmente se “livrar” de alguma coisa.

Todos contam uma história, e a maioria delas tem um significado especial pra mim, como por exemplo,  uma jarra linda que uma amiga ganhou no seu casamento uns 50 anos atrás, e quando soube que estava com câncer, mandou a jarra, delicadamente embrulhada, numa viagem de mais de 500 km.  Invariavelmente quando limpo a jarra, me lembro de seu sorriso fácil  e dos dias que dividimos sonhos e também muitas frustrações.

Numa fase de mudança e cortando o vínculo definitivamente com uma região geográfica, a necessidade de visitar alguns amigos é gritante. Ontem foi um desses dias.   Ao passar boa parte do dia com uma amiga que conheci quando  estávamos grávidas dos nossos caçulas, e os  nossos lindos  bebezinhos estão hoje com quase 22 anos, a ideia de que o futuro chegou me é muito familiar...
Fiquei saudosa e nostálgica na viagem de volta.

Sei que  minha amiga  vai reler esta frase..., vai rir ...  e não vai acreditar... mas é verdade.
Uma saudade esquisita, aquela sensação que eu detesto: “parece que não aproveitei o bastante!”
Somos tão iguais... e tão diferentes...

Eu gosto de “velharias”, ela gosta do contemporâneo.
Ela é sensível e amável. Bem, eu sou racional e amável bem de vez em quando...  
Ela fala com cuidado usando delicadamente as palavras... e eu ...não gosto muito de atalhos!
Ela já me irritou com sua maneira polida e  delicada, e já se magoou com minha racionalidade áspera e ácida. Acho que nestes vinte e poucos anos já vivemos intensamente uma amizade, e posso dizer que admiro muito minhas outras amigas, mas sem dúvida ela é a mais bonita, e juro, não é porque continua magra!
Estou ficando velha e nostálgica, que raiva!!

Voltemos aos objetos significativos. Ao nos encontrarmos ontem,   duas xícaras estavam me esperando.  Minha amiga separou  com cuidado as xícaras que foram de sua mãe _ eu sei mais do que ninguém o amor e carinho que ela teve por sua mãe! Acho que foi isso que me fragilizou desta maneira.

Trouxe as xícaras com todo cuidado e com certo medo... pois sou, digamos um pouco desastrada...
Mais do que fazer parte da minha pequena coleção de “velharias” elas serão como um memorial da nossa amizade. Quando um dia meus netos perguntarem: “e estas xícaras vovó, de onde vieram?”  Vou ter que sentar e contar a história de amizade que construímos, e como quase todos os idosos, vou caprichar nos detalhes, repetir inúmeras vezes as mesmas coisas e sentir uma saudade danada de um tempo que passou.

Acho que amizade é isso!

*texto escrito em agosto de 2012

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“Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, Depende de quando e como você me vê passar.” (Clarice Lispector) Tenho algumas paixões, como livros, filmes, viagens e... tecidinhos. Tenho alguns amores... meu marido e meus filhos. Tenho um único Deus, e sirvo somente a Jesus Cristo. Flor de Baunilha é o meu particular mundo do Patchwork e afins. Alecrim com Canela, meu mundo de especiarias e aromas. 56 Fragmentos, minhas viagens, um pouco de tudo e muito de nada.